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Arquitetos: Nanzer + Vitas
- Área: 290 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Gonzalo Viramonte
Descrição enviada pela equipe de projeto. Uma casa: uma aldeia. Toda arquitetura carrega implicitamente sua vocação de ruína, tal condição é a forma final na qual a arquitetura entra em comunhão com a natureza e retorna a ela. A partir deste destino potencial, nos interessamos pela expressão física do inacabado, que tempo e inclemências transformam, as formas pelas quais a obra é gradualmente assumida e constituída pela paisagem, dissolvendo lentamente sua singularidade no todo. A casa foi pensada como uma planície de concreto e pedra subindo da colina, uma casa de paredes fragmentadas, que emerge da organização e repetição de volumes de dimensões idênticas em planta, 5 x 5 metros, com alturas variáveis e telhados inclinados, conforme prescrito pelo código de construção, articuladas por vazios estratégicos, pátios, passagens e interstícios, que por fora dão origem e preservam as espécies da floresta local, e por dentro, tornam-se as "ruas" de circulação desta trama de pedra, à maneira de uma aldeia de montanha medieval. Volumes de parede delimitam espaços vazios, tão importantes quanto os cheios, através dos quais a paisagem circundante é filtrada e o espaço externo é regulado para seu uso, protegendo dos ventos dominantes e orientado de acordo com a trajetória solar.
A circulação principal liga o lado de fora com o coração da casa, materializando-se como um volume de concreto claramente horizontal, que, devido à inclinação do terreno na área de acesso, sobe do solo até uma altura de 2. 20 metros de altura, adotando a fisionomia de um baldrame, formando um pequeno átrio cujo ponto focal é constituído por uma janela zenital que emoldura o céu, de modo que cada vez que alguém entra ou sai da casa, realiza involuntariamente o gesto arcaico de olhar para o firmamento, o infinito vertical que nos devolve a escala precisa do nosso devir em relação ao universo. Esta circulação faz a ponte entre o desnível do terreno e articula todos os espaços da casa, é o lugar onde invariavelmente caminhamos em todos os momentos. Por este motivo, assume um papel central no projeto, dando continuidade à paisagem dentro da casa, através de aberturas que levam a pátios internos ou externos, criando uma atmosfera de transição entre o exterior e o doméstico. Uma "rua principal" une, organiza e deriva em direção ao restante das salas, horizontal e verticalmente, pois está ligada à escada principal em seu patamar intermediário, uma determinação tipológica que deixa tanto as salas do andar superior quanto as do térreo com seus respectivos serviços sempre equidistantes, e ao meio nível do espaço principal de reuniões, que está estruturado ao redor da cozinha e do fogo.
A cozinha é o centro gravitacional da vida nessa casa. O pedido do cliente se expressa na configuração tipológica, sendo o espaço de chegada e permanência, onde o interior se comunica abertamente e em diferentes direções com o espaço externo e o poder de sua paisagem. Constitui um espaço em plano aberto de um pé direito e meio, ocupado por uma bancada/balcão que sai do chão, como uma escultura ou um altar culinário, que rege o horário familiar, os encontros com amigos e suas experiências, entremeados por ritos gastronômicos. A condição material define e qualifica essa casa, é através dela que se expressa a técnica utilizada em todo o complexo, a da parede de forma ciclópica, um procedimento artesanal executado a partir da experiência dos trabalhadores locais com a pedra, que, fundida após fundida, imprime a textura da madeira que reveste a argamassa e comprime a pedra. O "erro" e as variações de chumbo que surgem na parede à medida que a estrutura sobe, a distribuição aleatória das pedras e sua cor mineral, dependendo da origem da pedreira onde são extraídas, tudo isso dá um caráter físico, um estímulo tátil para os limites do espaço. As paredes funcionam como textos, uma caligrafia tectônica disposta por marcas e sinais, que oferecerão infinitas variações quando expostas às condições de mudança da luz e sua incidência de acordo com as estações do ano. O material duro exposto ao clima e ao tempo é o procedimento material para que esta casa entre em comunhão com a paisagem circundante.
